sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Diário de Bordo por Bruna Landim

A prática teatral
[ O corpo, o ator, movimento, ação e etc...]


Como alguém pode duvidar de seus sentidos? Eles não apresentam uma realidade modificada, mas a realidade como ela é.

A palavra “teatro” vem de origem grega que significa “ver”. Estranhamente, quando escutamos o verbo “ver”, sem querer, nós o associamos com uma representação concreta de nossos sentidos, os olhos. Ora, essa conclusão é equivocada. Pois, podemos ver com os braços, ouvidos, boca, nariz, pernas, em suma, todo o nosso corpo com uma clareza muito distinta. Ao contrário, de olhar com os olhos sem se aperceber das coisas.

O corpo não só fornece signos da realidade, mas nos apresenta uma imagem física das coisas. Ele é a morada de uma unidade espiritual misteriosa. E, portanto, nenhum movimento do corpo não explicável exatamente é. Se racionalizares tudo que sentir, não haverás nenhuma vivência, apenas teses das coisas. Afinal, a linguagem corporal não traduz as racionalizações, porque essa é constituída por sentimentos.

Somos um templo sagrado do espírito. Logo, todo e qualquer movimento será encoberto de sentidos e significados mesmo que não tenha nenhuma intenção. O movimento é livre, e percorre caminhos inimagináveis. Essa liberdade permite o côgito maior: “eu sinto”. No entanto, ambos os côgitos, - “eu penso” e “eu sinto” - não se contrapõem ao outro, apenas se completam.

Assim, não devemos somente sentir, mas pensar sobre os sentimentos. Não devemos pensar, mas sentir os pensamentos. Portanto, não só deve praticar teatro, mas pensar sobre a prática teatral.

Qual a diferença entre teatro e dança? A diferença está na forma que estudamos o movimento. A dança estuda o desenho dos movimentos, que já são ocultos de significados. E o teatro estuda as intenções que um movimento simples consegue lhe oferecer. Essas possibilidades de intenções com movimentos são chamadas como ações. O movimento e a ação têm uma diferença gritante: a forma de estudo. Porém, a maior semelhança de ambos, a qual, é facilmente notável: que eles são estudados para atingir a naturalidade do corpo. Ou seja, todo movimento que não é meu, distante da minha realidade, no momento que eu estiver o executando, deve passar a sensação de simplicidade como se ele fosse meu. Por isso, essa necessidade de repetição e aprimoramento de um material inorgânico. Há um trabalho longo de se apropriar do material e torná-lo orgânico ao meu corpo e espírito. Esse desenvolvimento do material tem a finalidade de atingir indivíduos espectadores que sentem a necessidade de salvação.

Como diria Fernando Peixoto: “ o teatro é efêmero” e, portanto, por possuíres uma natureza tão passageira das coisas. Ele tem quase uma obsessão pelo gosto da eternidade. Não existem obras estáticas diante do palco. Não é um plano imaginário, cuja realidade lhe é imprecisa. O palco não permite confusão de egos, mas, somente, o trabalho carnal de atores em sintonia cênica. Não há tempo, para racionalizações, quando se está em cena, pois a eternidade termina no décimo de segundos.

No final das contas, o ator corre o risco de exposição à toa, afinal, sabe-se ele que morrerá ali com um sopro impossível. O ser que representa nunca será imortalizado; a prática teatral não o permite, - pelo menos, não com o tipo de eternidade que imaginamos. A eternidade de um ator é uma outra. O ator é corpo, e quando o seu corpo acaba, morre-se com ele a sua arte. É por isso que não há atores imortais. O teatro é prática crua, a qual, o coletivo sempre terá a voz e o diálogo ator-platéia [mesmo que seja delicado] será sempre correspondido por choques.

Bruna Landim

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